quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O ser que não gosta de sexo


Por Tamires Santana

   A troca de calor, de energia, a busca do prazer, do alívio, o melhor entretenimento que o ser humano lava consigo: o sexo. Apesar de algumas pessoas gostarem de incrementar, não é necessário energia elétrica, metal, máquinas, o plantio de árvores, emprego e financiamento em bancos para a produção deste prazer. Uma receita de poucos ingredientes.
   Parece comum que as pessoas gostem de beijar, acariciar, chupar, dar, comer, bater, apanhar, enfiar, tirar, molhar, lamber, esfregar, abrir, fechar, arreganhar, pular, virar, abaixar, colocar, balançar, aprofundar, facilitar, estimular, penetrar (...), no entanto, nem sempre.
   Um ser pode não gostar de sexo. Neste mundo tem de tudo e isto também pode acontecer. O que ocorre é que o pobre coitado, infeliz de nascença, logo é taxado de anormal, problemático, traumatizado, amaldiçoado, frustrado e tudo o mais que se possa imaginar. Mas isto não importa. O extraordinário é que ele pode existir e, apesar das desconfianças, pode ser feliz e, pasmem, pode ter filhos.
   O fato de não ter o sexo listado como prioridades na sua vida e ser algo que não faz parte do gosto pessoal, não significa que não pratique o ato. Talvez não com tanta freqüência, é verdade, mas seja por pressão da sociedade, dos amigos, por culpa ou curiosidade, eis que decide abrir as pernas e de lá deixa saltar um filho. Mal sabe que carregará consigo a ilusória imagem de “experiente”, quando não, o mero engano de que deve ser bom...de cama.
   E é aí que a felicidade acaba. Justamente no momento em que é contaminado pelos comentários alheios sobre o seu desenvolvimento na cama. Não precisa ser na forma direta. Pode ser por meio das Mil e Uma Noites de fulano, o Circo Du Soleil de Cicrano, etc. Depois emenda com a maldita pergunta: “e você?” Contudo, piora mesmo é no instante em que todos parecem aliviar a tensão dos seus problemas praticando o ato. Parece ser mais perfeito que uma sincera oração ao Sagrado Sacro Santo.
   Intrigado fica o ser que não gosta de sexo. Se deixa abrir os olhos para o mundo e após eles as pernas. É natural. É esperado. O Créu já fora profetizado. Também estava presente quando o lobo mau comeu a vovozinha do Chapeuzinho Vermelho e que tanto amamos ler às nossas criancinhas inocentes - que daqui a poucos instantes estarão grávidas ou se tornarão pais precoces.
   Um tapa do destino e eis que o ser que não gosta de sexo encontra um órgão genital. O prazer, a vontade, os desejos, a curiosidade, os delírios, as fantasias surgem como que por encanto.
   O ser que não gosta de sexo hoje gosta…e sofre. Pensa, sonha, delira, chama, geme, estimula, massageia, senta, deita, levanta, domina, solta, gosta, tira, sente, toca, chupa, vem, vai, deixa, faz, pula, aperta...precisa.      O pobre coitado, infeliz de nascença não ficou livre nem se quer um instante de sua vida. Se antes não necessitava e penava por ser diferente, agora quase enlouquece ao se equiparar à normalidade.
   Que saudade do ser que não gosta de sexo, apesar de colossal, era feliz.

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