domingo, 30 de dezembro de 2012

A negrinha do sapato vermelho




Por Tamires Santana

Existia no Império de Xingu, na Dinastia de Yapoke (1120 a.c – 1000 a.c) uma mulher fanática por sapatos vermelhos. Tinha muitos, de todas as tonalidades existentes no extenso Império, sem contar tantos outros trazidos por nômades vindos de lugares longínquos. Ficou conhecida como a Negrinha do Sapato Vermelho.

Certa vez, se apaixonou por um homem belo e generoso, dono de muitos livros e de família honrada. Mas o amor, como se deve esperar, não é tão simples de explicar e vivenciar. Este homem era mais velho, o que, para a época, não era favorável para o laço matrimonial.

Acreditava-se que um homem e uma mulher, ao unir-se, por amor ou arranjo da família, deveriam ter no máximo quatro luas de diferença um do outro e, prioritariamente, o homem deve ser o mais velho para acompanhar a mente avançada da mulher. A tradição também dizia que o casal deve envelhecer junto.

O homem era bom, talentoso e dono de uma habilidosa oratória, fator reconhecido pela cultura do Império naquela época, porém, tinha uma marca triste em sua vida: uma desilusão amorosa. Há dois anos o homem havia entregue seu coração a uma forasteira vinda de Palpam. Os dois planejaram o casamento, até que certo dia a mulher fugiu com o Príncipe Temor, não sendo encontrada. O homem, desde então, nunca mais foi o mesmo.

Negrinha do Sapato Vermelho, mesmo tendo conhecimento desta triste história, não desistiu e prosseguiu na tentativa em conquistar o amor de sua vida. Costumava ir, todos os dias, pedir orientação a deusa Afrodite, debaixo de uma Reza Missa, ao por do sol. Numa dessas ocasiões, se deparou com um sábio. Resolveu pedir conselhos ao velho desejando orientação em como conquistar o amor do homem.

Calmamente, o griot, após tomar conhecimento do caso, conclui: não deve-se jogar pérolas aos porcos. Desapontada com a recomendação, Negrinha do Sapato Vermelho fixou a ideia de que poderia mudar o destino, mesmo após a vidência de um sábio.

Desejou do fundo do seu coração o amor daquele homem enquanto calçava um par de sapato vermelho cor de sangue. Atingido pela cor o homem ao vê-la lembrou-se de sangue, sangue lembrou de coração, de coração lembrou de amor e olhou nos olhos da jovem. Percebeu que anos havia se passado e ele vivia amargurado. E assim, apaixonou-se apenas pela metade da Negrinha do Sapato Vermelho. 

Convicta de que havia conquistado o amor quem mais desejava, Negrinha do Sapato Vermelho parou de comprar sapatos vermelhos. Sua vida voltava-se totalmente para quem tanto amava e com  tamanha ocupação palavras, pensamentos e ações eram apenas sobre e para ele. Deixou até de comprar sapatos vermelhos e com isto, ia deixando de ser ela mesma.

Ano se passaram, o homem envelhecia mais e mais. E a paixão por ele não cessava. Até que, a mulher do passado aparece no presente. Tudo se abala e fica inseguro. A forasteira exige o coração do homem de volta e agora pede pra que ele vá com ela. Eis que o homem se decide e vai viver o seu grande amor, deixando Negrinha dos Sapatos Vermelhos. O conselho do sábio finalmente se concretiza. A Negrinha do Sapato Vermelho não tem mais vida. De vermelho passou a viver o resto dos seus dias cinza.

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