domingo, 30 de dezembro de 2012

Altar e perdição


Por Tamires Santana

O olhar imóvel de um rosto angelical, copiado fielmente de uma meretriz da Era dos Grandes Pintores, hoje é confiada ser uma verdadeira santa; o acabamento é revestido por madeira e qualquer coisa dourada; pinturas antigas forram o teto. Tudo muito bonito de se ver, parte do cenário do qual o padre, pecador, prega a palavra de Deus diante de seu rebanho. São ovelhas da Era Funk que dissimulam rezar e cantar os cânticos com sentimento, mas não veem a hora de sair para almoçar.

Parece que a palavra não surte mais efeito como antigamente. Não se fazem mais religiosos como antes. O que será que aconteceu? Fazê-los acreditar nas escrituras de um livro organizado sob os interesses do Vaticano é o desafio de qualquer escolhido pelo Senhor. O reino dos céus será dos alucinados.

Está tudo perdido, me parece. O terço de madeira desejava vir ao mundo como enfeite de estante. Sofre cada vez que a mãe o aperta firmemente ao se desesperar pelo filho que se perdeu nas ofertas fáceis dos tempos modernos. Não adianta mais sentar no próprio rabo e olhar apenas para o nariz, se uma mãe chora, todos sentem a dor.


Os traços lembram uma santa, os braços abertos sugerem acolhimento, aos pés do vestido longo e azul, conchas do mar e areia; a base é de madeira revestida pela pele de algum animal; velas, flores, ervas, pembas, espadas e pedras. Tudo muito estranho de se ver, parte do cenário do qual o pai de santo, pecador, incorpora e repassa a palavra de uma entidade diante de um irmão. São pessoas da Era Crise que lamentam não sabem lidar com seus problemas pessoais, esperam um descarrego e não veem a hora de sair para jantar.

Parece que ir uma vez por semana tomar passe não resolve mais como nos tempos antigos. O branco não é mais a cor da moda? Fazê-los acreditar nas palavras de um morto que afirma que se deve aprender a lidar com os próprios sentimentos e parar de culpar o outro é a provação para qualquer sacerdote. O reino dos céus será dos loucos.

Está tudo perdido, me parece. A roupa branca desejava ter sido confeccionada de outra cor. Não aguenta mais ser absurdamente clara apenas uma vez por semana e ser usada como mero adorno. Do que adianta vestir o externo enquanto o interno não muda nunca? A hipocrisia é um mal da modernidade.


O altar é de madeira maciça; os instrumentos da melhor banda de todos os tempos; o piso recém- reformado; as cadeiras novas. Tudo muito bonito de se ver, parte do cenário do qual o pastor, pecador, prega a palavra do senhor diante dos irmãos. São ovelhas da Era Lucro que camuflam nos hinos os olhares atentos e não veem a hora de sair para comentar alguma coisa sobre o outro.

Parece que vestir a roupa nova e justa e estar presente no culto dominical não apresenta resultado algum. Não era para oferecer o melhor pra Deus?  Fazê-los acreditar que a transformação está dentro de cada um e não depende do pastor nem sempre é o que o bispo da TV ambiciona sintonizar em massa. O reino dos céus será dos questionadores.

Está tudo perdido, me parece. Pregar a palavra não basta, tem que ficar gritando, bitolando e domesticando as ovelhas.  Ainda assim, o Senhor, tanto evocado nestas ocasiões, não vê a hora desse povo todo começar a entender o verdadeiro sentido de suas palavras e parar de fantasiar sobre a sua volta. Do que adianta voltar se o que já foi transmitido ainda não é compreendido?

A ignorância e a ganância parece que grudaram nos corações e mentes dos homens. Está mais fácil tirar goma de mascar do cabelo.

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